quinta-feira, 15 de junho de 2017

INVASÕES FRANCESAS - III

8.1.10 – Invasões Francesas - Segunda Invasão II, Defesas do Porto em 1809, Entrada em saque dos franceses, Desastre da Ponte das Barcas, 


Defesas do Porto na segunda invasão - 1809

Soult acampou em S. Mamede de Infesta. No Porto estavam ainda em curso as obras de defesa, com 20.000 homens apoiados por 35 baterias dispostas ao longo de uma linha que ia de Campanhã à Foz: baterias da Foz (1), Lordelo (2), Ramalde (3), Prelada (4), Glória (5), Monte Pedral (6), Lapa (7), Aguardente (8), Lindo Vale (9), Sério (10), Póvoa de Cima (11), Quinta dos Congregados (12), Cativo (13), Bonfim (14) e Campanhã (15). No dia 29 o inimigo efectuou o ataque final, entrando pelas baterias de Aguardente e de Monte Pedral, e a cavalaria pela de S. Barnabé (Prelada), dirigindo-se rapidamente para a Ribeira.


Pormenor do quadro existente na Capela de S. José das Taipas sobre o desastre da Ponte das Barcas


Pinheiro Chagas


O General Brum, testemunha deste trágico acontecimento descreve-o assim:



Ribeira e Ponte das Barcas - 1806/1809




Artur de Magalhães Basto – in O Tripeiro, Série V, Ano XII


H. L’Evêque. London . 1817

Ponte das Barcas – 14 de Agosto de 1806 a 12 de Maio de 1809 – Dado não termos encontrado qualquer gravura que garantisse ser da ponte de 1806, onde se deu o desastre, colocámos a gravura de 1817. Segundo José António Monteiro de Azevedo,na sua “Descripção Topográphica de Vila Nova de Gaia”, contemporâneo da ponte inicial, esta “vistosa ponte, única no seu género em Portugal, e que se compõe de 33 barcas. Tendo perto de 1000 palmos de extensão, é talvez a obra mais útil de quantas se têm feito no Porto, tanto pelo prazer do passeio que ela inspira e comodidade que presta aos viajantes, como porque, a exemplo da de Ruão, sobe e desce com as marés, abre-se e fecha-se para dar trânsito às embarcações maiores e finalmente desmancha-se e restabelece-se, quando as vicissitudes do rio o exigem. É incrível o concurso do povo que diariamente passa por esta ponte, sobretudo às terças e Sábados de cada semana. Basta dizer que sendo os preços de passagem os mais cómodos e sendo isenta de paga a tropa e pessoas que vão a diligências, assim mesmo, regularmente falando rende por dia 50$000.” A tabela em referência era às taxas seguintes, que duplicavam depois do pôr do Sol: Cada pessoa a pé - 5 reis; cada pessoa a cavalo – 20 reis; carros de bois de uma junta – 40 reis; por cada junta a mais – 20 reis; cadeirinhas de mão – 60 reis; liteiras – 120 rei; seges de duas rodas – 160 reis; seges de quatro rodas – 200 reis." - In O Tripeiro VI série, ano III, pág. 171.
A ponte de 1806 foi destruída pelos franceses em 12 de Maio de 1809 com receio de que o exército anglo-luso a atravessasse para o Porto.


O desastre da Ponte das Barcas - quadro pintado a óleo sobre cobre, existente na Capela de S. José das Taipas. Este quadro esteve na Ribeira, no local onde hoje se encontram as alminhas abaixo.


Alminhas da ponte – Teixeira Lopes (pai)

“ …Às 9 horas da manhã do dito dia 29 de Março (1809) rompeu o inimigo pela trincheira de Santo António fabricada no Monte Pedral e logo por quase todas as partes descarregaram com tanto ímpeto sobre a cidade que atropelaram um número incalculável de povo que, afiançado nas disposições das trincheiras se não tinha prevenido para a fuga; foi grande a mortandade e muito mais na ponte do Douro, onde uns foram atropelados, outros afogados…” Memórias do Convento de Nossa Senhora do Carmo.
O povo assustado, por causa dos relatos vindos do Minho referentes às atrocidades cometidas, fugiu em massa pela ponte das barcas com a intenção de se refugiar em Gaia. Porém a ponte, não aguentando o peso, afundou-se levando à morte de mais de 4.000 pessoas. Há quem afirme que foram mais de 10.000. Muitas pessoas em fuga atiraram-se ao rio por verem que seria impossível atravessar a ponte.


Afogamento de mãe e filho no Douro em 29/3/1809 – pormenor do monumento à Guerra Peninsular


Portuenses morrem afogados no Rio Douro - pormenor do Monumento à Guerra Peninsular


A GRANDE CATASTROPHE DA PONTE DAS BARCAS
Cópia de uma aguarella, não concluída, do pintor portuense António Simões Pereira de Vasconcellos, testemunha presencial da tragédia e avô do nosso colaborador artístico Sr. Eduardo da Fonseca Vasconcellos

A Igreja/Capela de S. José das Taipas começou a ser construída em 1795, mas só foi concluída em 1878, devido às condições políticas do séc. XIX e à falta de verbas. O projecto inicial foi do Eng. Carlos Amarante, mas foi alterada, em parte do seu interior, à medida que os anos passavam. 
Desde 1634 a Irmandade de S. Nicolau Tolentino e Almas, que era dos bacalhoeiros, esteve sediada na Igreja de S. João Novo . Em 1780, devido a desinteligências, esta irmandade deixou aquela igreja e passou para a Capela de S. José das Taipas, na Rua das Taipas, da família dos Pacheco, tendo-se fundido com a Irmandade de S. José das Taipas, passando a denominar-se Confraria das Almas de S. José das Taipas. Foi a partir desta fusão que se decidiu a construção da nova capela, na Rua do Calvário. 
A esta confraria foi entregue pelos moradores da Ribeira, em 1810, o sufrágio das almas dos mortos no desastre da Ponte das Barcas do dia de 29 de Março de 1809. Tinha o encargo de ter sempre 2 velas acesas no local do desastre, recolher as esmolas e, no dia do aniversário, sufragar as almas das vítimas com missas e uma procissão que ia até à Ribeira, acompanhada de música. Este encargo trouxe à confraria uma grande simpatia e consequente aumento de esmolas. Estes rendimentos, acrescidos da percentagem dos lucros da venda do bacalhau, permitiu que se construísse a capela com a grandiosidade que hoje tem. Tem 4 altares laterais dedicados a Nossa Senhora das Dores, da Saúde, da Conceição e de Santo António. 


O povo ainda hoje venera esta memória, rezando pelos mortos e colocando velas.

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